A
Educação Musical deve intentar oportunizar ampliação, tanto de saberes quanto
de cultura. Sua função, primeiramente, é desenvolver musicalmente pessoas e,
paralelamente, cumpre um papel sociocultural. Nesse sentido, a Educação Musical
deve direcionar o ensino da música para a diversidade de experiências,
processos e produtos, contemplando um universo de ‘possíveis’ que advêm de uma
prática plural, integral e integralizadora. Deve, portanto, buscar o equilíbrio
entre o que deve ser ensinado para ampliar o universo musical e cultural dos
alunos, e o que eles carregam para dentro da sala, fruto de suas vivências e
preferências músico-sociais. Afinal, cultura, sociedade e música são
construídas nos sujeitos desde berço.
Educação é uma palavra de origem
latina, educatio, que remete à ação
de criar, nutrir, cultivar. Estas palavras remetem a algo que é construído e
reconstruído, ao invés de algo pronto, estanque, unidirecional. Nesse sentido,
educar musicalmente deve permitir, por meio da experiência prática e contínua,
que as pessoas se apropriem culturalmente da música, seja compondo, apreciando
ou executando; que desenvolvam um senso de identidade que lhes permita sentirem-se
parte de um grupo que produz e compartilha cultura musical; que signifiquem e
(re) signifiquem a música e a si mesmos, com o intuito de participarem da
construção social, cultural e musical do seu meio, promovendo, inclusive, sua
ampliação e diversificação.
Falar em Educação Musical é,
acima de tudo, pensar na música como ponto de partida e o objetivo final na
formação do sujeito. Seja na aula de
instrumento, individual ou coletiva, nas aulas de musicalização, ou em outro
tipo de atividade musical destinada a ensinar, o foco deve priorizar sempre o fazer musical sob seus múltiplos
aspectos: exploração, controle, fluidez (discurso), expressão, transformação,
invenção, e o que mais possa contribuir de maneira a ampliar a “biblioteca”
musical dos alunos! A construção do universo cultural e musical só será idônea
se contemplar, ao máximo, tarefas, culturas e experiências diversificadas e
conectadas entre si.
Portanto,
não se deve insistir no benefício primeiro da música como favorecedor de outras
aprendizagens, ou para contribuir na socialização e atenção dos alunos
envolvidos, por exemplo, pois outras disciplinas escolares também cumprem este
papel. Fazendo minhas as palavras de Graça Mota (2000, p. 125):
“A Música constitui um elemento fundamental para
desenvolver as capacidades de expressão e comunicação, imaginação criativa e
atividade lúdica, favorecendo o sentido de participação e integração da criança;
[...] e contribui também para o desenvolvimento de capacidades de atenção, de memória,
de coordenação motora, de sensibilidade estética, criatividade e espírito
crítico, ao mesmo tempo que proporciona aos alunos experiências que favorecem
atitudes e hábitos de relação e cooperação, de responsabilidade e solidariedade
(Caldeira Cabral, 1988, p. 15).
Dado que as palavras que anteriormente se
transcrevem representam a justificação para a inclusão da Música no currículo
da formação geral, é lícito perguntar se o que se preconiza não poderá
igualmente ser cumprido por uma qualquer outra área do conhecimento e se,
consequentemente, vale a pena tanto esforço por uma disciplina que terá, tão
somente, o papel de suporte de outras aprendizagens.
Podemos, assim, identificar dois princípios que têm
presidido muitas das decisões de política educacional nesta matéria:
1) A Música na formação geral é encarada como
subsidiária de outras aprendizagens; meu
comentário: claro, pois se ela cumpre objetivos que outras disciplinas
consideradas “intelectuais” cumprem, como Matemática, português, para que a
música deve estar na escola, então?
2) A Música na formação geral não se constitui como
uma disciplina com seus objetivos próprios inerentes à Arte; meu comentário: mas com objetivos que se
aplicam à outras disciplinas, objetivos os quais são obtidos até por atividades
extra escolares, que o aluno faz em casa, por exemplo, como ver um filme com os
amigos. Sob esta postura, a Música perde sua funcionalidade, primeiro como
disciplina, e logo atrás, como Arte!
Mas precisamos entender [...] que estamos diante de
uma arte essencialmente abstrata que, embora profundamente ancorada no domínio
dos afetos e emoções, faz apelo a uma conceptualização de tipo específico,
nomeadamente auditivo, e ao domínio da linguagem básica capaz de traduzir o
território sonoro que se mantém sempre infinitamente mais vasto que sua própria
representação.
[...] Nesse sentido, educar musicalmente, quer seja
pensando em termos de uma formação geral ou vocacional, terá sempre um e um só
objeto: a Música. A Música entendida como arte como todo o código que lhe é
inerente e a Música entendida através dos múltiplos idiomas que percorrem a sua
própria história. Em suma, a Música nas suas três vertentes fundamentais de
composição, audição e performance. Partir daqui para a interdisciplinaridade, procurando
um entendimento de todas as questões que se colocam à multi e
transdisciplinaridade das artes parece-me, agora sim, um percurso bem mais
convincente. [...]"
Não estou negando que atividades musicais possam desenvolver e favorecer estes aspectos mencionados acima! O que estou querendo frisar é que não podemos continuar defendendo que "Música é bom para tudo", menos para aprender Música, como se a aprendizagem musical fosse um derivado óbvio que desobriga qualquer afirmação de sua validade!... Nesta esteira, afirmo mais: que se deveria investir em defender os benefícios musicais das atividades musicais para que os professores se interessem cada vez mais por ministrar aulas de música que intentem, de fato, ensinar Música, ao invés de se constituírem meros passatempos ou ludicidades sem contexto pedagógico.
Não estou negando que atividades musicais possam desenvolver e favorecer estes aspectos mencionados acima! O que estou querendo frisar é que não podemos continuar defendendo que "Música é bom para tudo", menos para aprender Música, como se a aprendizagem musical fosse um derivado óbvio que desobriga qualquer afirmação de sua validade!... Nesta esteira, afirmo mais: que se deveria investir em defender os benefícios musicais das atividades musicais para que os professores se interessem cada vez mais por ministrar aulas de música que intentem, de fato, ensinar Música, ao invés de se constituírem meros passatempos ou ludicidades sem contexto pedagógico.
Graça Mota é portuguesa. O texto dela reflete tanto a nossa realidade brasileira, vejam! Isto significa que a questão em torno da utilidade, do lugar da Música no meio escolar é algo que extrapola nossas fronteiras! O quão sério é isto, em termo de dimensão do problema! Que trabalho temos à frente, para definir o lugar da Música na escola, de modo que consigamos, como na época do Quadrivium, que a Música não dispute lugar com outra disciplinas, mas que compartilhe com elas as possibilidades de construção integral do ser humano!
Referência:
MOTA, Graça. O ensino da música em Portugal. In:
HENTSCHKE, Liane (org.). A educação musical em países de língua neolatina.
Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000, pp. 123-137.
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