E sobre o que trata o livro?
Conheça seu conteúdo, lendo sua apresentação, que disponibilizo aqui:
APRESENTAÇÃO
A semente que germinou esse
trabalho é antiga na minha vida... Nunca aprendi música, quando criança,
utilizando objetos que não fossem os próprios artefatos que estão a serviço
dela, como os instrumentos musicais e os livros! Por isso, quando comecei a
ensinar música, esses eram os recursos que utilizava. Porém, mais tarde,
durante o período em que cursava a faculdade de música, em Belo Horizonte, me
deparei com um novo tipo de ensino, subsidiado por diversos materiais
manipuláveis, e também brinquedos e jogos, que eram chamados materiais concretos. Crianças, então,
deveriam aprender música assim, manipulando objetos – pensei!
Acontece que, ao terminar a
faculdade é que comecei, de verdade, a estudar! Ao tomar conhecimento das
teorias de desenvolvimento musical e artístico surgidas a partir do final da
década de 70, estranhei o fato de que não mencionavam um aprendizado de música
que não fosse pela música, em si. Comecei a entender que o valor à prática e à
experiência musical estaria à frente de qualquer outra forma de se relacionar
com a música, quando se fala em ensinar e aprendê-la. O contato direto com ela
e seus elementos constituintes, desde os materiais musicais até as formas
expressivas que surgem quando esses materiais dançam em nossa imaginação, era a
tônica defendida nessas teorias.
Cheguei a um impasse: e os
materiais concretos? O que eles estavam fazendo no ensino de música, então, se
aqueles fundamentos da educação musical não tratavam deles, nem os mencionavam?
Por que crianças precisavam aprender música manipulando objetos? Isso muito me
intrigou... E já se sabe, quando algo nos intriga, é hora de fazer pesquisa!
E assim surgiu o tema da
investigação que hoje se transforma em livro e chega às suas mãos.
Fui buscar, em fundamentos
de áreas vizinhas à Educação Musical, como a Psicologia e a Educação, possíveis
explicações para meus questionamentos. Depois de algumas leituras, descobri que
a adoção de materiais concretos como subsídio da prática docente é decorrente
de uma gradativa percepção de que a manipulação de objetos facilita a aquisição
de conceitos. Estudos atuais revelam que o jogo e o brinquedo são ainda
utilizados, no século XX-XXI, como meios para se atingir objetivos pedagógicos
(KISHIMOTO, 1994, p.13-14). Observamos que o mesmo ocorre nas aulas de música
para crianças.
Em minha experiência e
observação da prática da educação musical infantil, ao longo de mais de vinte
anos, sempre constatei que os materiais concretos são utilizados para ensinar as
crianças das mais diversas idades, e mesmo adolescentes e adultos, mas logo ficou
evidente que a grande variedade desses materiais se concentra no trabalho
realizado com as crianças entre três e cinco anos de idade. Uma infinidade de
objetos, materiais de jogo, quebra-cabeças, dentre outros, são constantemente
incorporados à prática educacional de música. Entretanto, prevalecem dúvidas
quanto à classificação desses materiais em jogos, materiais pedagógicos
concretos ou brinquedos (KISHIMOTO, 1994, p.13-14). A questão terminológica
pareceu ser, para mim, o gatilho inicial para compreender a inserção dos
materiais concretos no ensino de música para crianças dessas idades.
O termo, oriundo da Educação
Matemática, foi ‘emprestado’ à Educação Musical. Embora esses materiais sejam
amplamente utilizados no ensino de música, eu não encontrei, à época que decidi
pesquisar o assunto, nenhuma pesquisa acadêmica acerca do que os define e qual
sua função na educação musical infantil. Havia, então, um descompasso entre a
frequência com que esses objetos eram utilizados no ensino de música e a
inexistência de estudos a respeito de seu uso e função. Mas o jogo, o
brinquedo, o material concreto estavam lá, na sala de aula! Seriam eles
sinônimos? Nomenclaturas diferentes para um mesmo objeto? Portanto, foi premente,
para mim, entender se e como os materiais concretos guardavam
relações com o jogo e o brinquedo, uma vez que todos eles eram incorporados à
prática da educação musical infantil.
Porém, eu estava longe de
compreender a relação entre o uso desses materiais no ensino de música e a
omissão deles nas teorias de desenvolvimento musical...
Por meio da pesquisa,
intentei responder a três questões que eu julgava o pontapé inicial, rumo a
futuras investigações mais profundas sobre o assunto: 1) O que define os materiais concretos
utilizados na aula de música? 2) Qual a função e aplicação desses materiais no ensino
de música para crianças entre três e cinco anos? 3) Qual a relação entre as
concepções de jogo, brinquedo e materiais concretos existentes na literatura e
aquelas apontadas pelos professores? Na
coleta de dados, que se deu por meio de entrevista, cada uma dessas três
questões viraram blocos temáticos, dentro dos quais elaborei perguntas mais
específicas, englobando, desde a questão terminológica até a relação entre os
materiais e o desenvolvimento musical infantil.
No
Capítulo 1, revisei os conceitos de jogo, brinquedo e material concreto,
surgidos a partir do século XX, na área da Educação. Em relação ao jogo e ao
brinquedo, percebi que muitas definições eram iguais, o que me levou a realizar
uma seleção daquelas que pudessem trazer algum diferencial em relação à outra,
somando contribuição. Também pude compreender que limiar conceitual
distingue, entre si, esses termos, o que deixou evidente que a utilização deles
como sinônimo não precisa ser uma práxis. A
partir
de suas definições e contextualizações na educação geral, busquei definir e
contextualizar esses termos na educação musical. Finalizando, discuti possíveis
implicações do jogo, do brinquedo e do material concreto na prática da educação
musical infantil.
No Capítulo 2, realizei,
primeiramente, um estudo histórico-evolutivo sobre o jogo e o brinquedo, desde
o século XVIII até o século XX. Destaquei as figuras de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich
Pestalozzi (1746 – 1827), Friedrich
Wilhelm August Froebel (1782-1852) e Maria Montessori (1870-1952), que investigaram a utilização do jogo e do
brinquedo na educação geral e musical infantil. Esse estudo poderia me oferecer
subsídios para compreender a inserção dos materiais concretos no ensino da
música na atualidade, a partir de uma perspectiva histórica que pretendia
relacioná-los ao jogo e ao brinquedo. Na segunda parte do
capítulo, apresentei e discuti as pedagogias dos educadores musicais Edgar
Willems (1970; 1962) e Maurice Martenot (1970) sob o ponto de vista do jogo e
do uso de materiais diversos no ensino de música. À luz de um estudo crítico
dessas pedagogias, pretendi compreender o universo no qual se inserem os
materiais concretos utilizados na prática da educação musical infantil na atualidade.
No Capítulo 3, apresentei a
metodologia de pesquisa utilizada, e no Capítulo 4, os resultados encontrados.
Esperei,
com esta pesquisa, definir o que são materiais concretos, qual sua função e
aplicação na aula de música, a partir de sua relação com o jogo e com o
brinquedo. A intenção maior, no entanto, foi a de fornecer subsídios teóricos a
partir de um viés reflexivo, que pudessem orientar o trabalho teórico-prático
do professor de música que trabalha ensinando por meio desses materiais.
Acredito
que a reflexão seja a mola propulsora de um trabalho pedagógico responsável,
sempre! É ela quem tem me guiado e impulsionado ao longo de vários anos, me
impedindo de ser abatida como o carvalho da epígrafe. Desejo, de coração, que
este livro possa guiá-lo e impulsioná-lo nesse sentido.
A epígrafe do livro diz:
ResponderExcluirDizem que um carvalho ridicularizava o junco, por se julgar firme. Ao vir uma tempestade, o junco, flexível, curvou-se, e o carvalho, rígido, foi abatido.
(Sabedoria Oriental)