O aprendizado paralelo de um instrumento
musical, além daquele no qual você se especializou, pode abrir portas! Portas no
âmbito musical, pedagógico e profissional. No âmbito musical, permite compreender como a música se configura em moldes diferentes daqueles com os quais você está acostumado no seu instrumento usual. Do ponto de vista pedagógico, possibilita compreender a utilidade de se aprender a tocar mais de um instrumento, ainda que de modo não profissionalizante, muito menos virtuose; amplia sua visão de como se ensinar instrumentos musicais distintos, compreendendo os limites técnico-musicais de cada um e lidando, na prática, com a transposição didática disso. E, por fim, no âmbito profissional, amplia suas habilidades como professor, tanto do ponto de vista do mercado quanto do conhecimento e exploração da linguagem musical.
Porém, normalmente, em relação àquele
instrumento no qual não somos especialistas, tendemos a não dedicarmos o devido
cuidado às questões técnicas, pedagógicas e musicais. Acreditamos que saber tocar é sinônimo de saber ensinar um instrumento musical: quanto mais virtuose, melhor professor eu serei! (ledo engano...) Então, se dedicamos a ensinar um instrumento musical, esses “nós” acabam se transferindo para o modo como ensino.
Nos cursos de Licenciatura em Música, é bastante comum a presença de disciplinas "Instrumento Complementar" na grade curricular. Os licenciandos tomam contato com a flauta doce, violão e/ou teclado. Na minha visão, a presença destes instrumentos nas licenciaturas precisa ser consoante com a função a que se dirige esses cursos: formar professores de música. O aprendizado de um instrumento musical costuma apresentar foco excessivo na performance, privando os alunos de uma experiência ampla e diversificada com o instrumento. O ensino acaba focando-se na reprodução de repertório via partitura. Assim sendo, os instrumentos complementares são uma oportunidade valiosa para os licenciandos conhecerem um outra visão do ensino/aprendizagem do instrumento, que volta-se para o estudo das possibilidades didático-pedagógicas em sala de aula. Portanto, essas disciplinas, muito mais do que ensinar a tocar esses instrumentos, devem ensinar a ensinar a tocar esses instrumentos! O repertório deixa de ser um fim em si mesmo para assumir o papel de veículo de construção de propostas pedagógicas, exercício de mecanismos didáticos e exploração de possibilidades musicais. Partindo de repertório simples, oportunizam-se o desenvolvimento da criatividade do licenciando, pelo estímulo à recriação das peças e arranjos, o rápido resultado técnico-musical e o prazer de se fazer música desde a primeira aula.
No curso de Licenciatura em Música a Distância da Unincor, onde leciono, a flauta doce é oferecida como instrumento complementar e, como docente dessa disciplina, essas são minhas diretrizes.
Com a
volta da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas regulares, a partir da
Nova Lei 11.769, de 18/08/2008, a flauta doce engendra um caminho de
possibilidades para o educador musical dentro desses espaços! Instrumento,
principalmente, de resultado sonoro-musical e técnico a curto prazo, seu aprendizado
possibilita, sobretudo, lidar prematuramente com a música de maneira musical, tarefa que sempre
é adiada no ensino instrumental.
Uma dica para o professor...
No trabalho grupal, a diversidade de saberes e níveis musicais entre os alunos não deve ser um motivo para descabelar e acreditar que seu trabalho está falido antes mesmo de iniciá-lo. Pelo contrário! Isso abre portas para um trabalho multifocal absolutamente rico com os alunos:
1) Atribui, a cada um, funções acessíveis dentro das peças a serem tocadas, ao escolher ou criar arranjos que ofereçam oportunidades para os diversos níveis musicais dos alunos.
2) Motiva os alunos a aprenderem, pois alunos menos experientes e mais experientes compartilham o mesmo espaço de produção musical. A prática colaborativa é essencial recurso motivador em tarefas grupais.
3) Possibilita ampliar o universo de possibilidades musicais com uma mesma peça, pois os arranjos tornam-se naturalmente flexíveis: partes podem ser acrescentadas, suprimidas ou modificadas.
4) Ao iniciar pelo que o aluno domina naquele momento do seu aprendizado, mostramos que o papel de cada um dentro do grupo é especial, que cada um possui seu valor e é imprescindível para o resultado coletivo.
5) Fomenta o espírito compositor que reside em cada professor, pois ele se esforçará para rearranjar ou compor peças específicas para o seu grupo instrumental. Além disso, incita nos alunos o desejo por comporem também, prática que provoca imersão direta com a linguagem e a estrutura musical, e oferece múltiplos olhares sobre a exploração de um mesmo material musical.
Enfim, os benefícios não se esgotam! Se você é professor de instrumento, mesmo que não seja complementar, deve pensar como um educador, não como um performer, ao dedicar-se a ensinar seu instrumento.
Fica a dica!
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