domingo, 21 de outubro de 2012

A função do instrumento complementar na formação do licenciado em música

O aprendizado paralelo de um instrumento musical, além daquele no qual você se especializou, pode abrir portas! Portas no âmbito musical, pedagógico e profissional.  No âmbito musical, permite compreender como a música se configura em moldes diferentes daqueles com os quais você está acostumado no seu instrumento usual. Do ponto de vista pedagógico, possibilita compreender a utilidade de se aprender a tocar mais de um instrumento, ainda que de modo não profissionalizante, muito menos virtuose; amplia sua visão de como se ensinar instrumentos musicais distintos, compreendendo os limites técnico-musicais de cada um e lidando, na prática, com a transposição didática disso. E, por fim, no âmbito profissional, amplia suas habilidades como professor, tanto do ponto de vista do mercado quanto do conhecimento e exploração da linguagem musical.

 Porém, normalmente, em relação àquele instrumento no qual não somos especialistas, tendemos a não dedicarmos o devido cuidado às questões técnicas, pedagógicas e musicais. Acreditamos que saber tocar é sinônimo de saber ensinar um instrumento musical: quanto mais virtuose, melhor professor eu serei! (ledo engano...) Então, se dedicamos a ensinar um instrumento musical, esses “nós” acabam se transferindo para o modo como ensino. 

Nos cursos de Licenciatura em Música, é bastante comum a presença de disciplinas "Instrumento Complementar" na grade curricular. Os licenciandos tomam contato com a flauta doce, violão e/ou teclado. Na minha visão, a presença destes instrumentos nas licenciaturas precisa ser consoante com a função a que se dirige esses cursos: formar professores de música.  O aprendizado de um instrumento musical costuma apresentar foco excessivo na performance, privando os alunos de uma experiência ampla e diversificada com o instrumento.  O ensino acaba focando-se na reprodução de repertório via partitura. Assim sendo, os instrumentos complementares são uma oportunidade valiosa para os licenciandos conhecerem um outra visão do ensino/aprendizagem do instrumento, que volta-se para o estudo das possibilidades didático-pedagógicas em sala de aula. Portanto, essas disciplinas, muito mais do que ensinar a tocar esses instrumentos, devem ensinar a ensinar a tocar esses instrumentos! O repertório deixa de ser um fim em si mesmo para assumir o papel de veículo de construção de propostas pedagógicas, exercício de mecanismos didáticos e exploração de possibilidades musicais. Partindo de repertório simples, oportunizam-se o desenvolvimento da criatividade do licenciando, pelo estímulo à recriação das peças e arranjos, o rápido resultado técnico-musical e o prazer de se fazer música desde a primeira aula.

No curso de Licenciatura em Música a Distância da Unincor, onde leciono, a flauta doce é oferecida como instrumento complementar e, como docente dessa disciplina, essas são minhas diretrizes. 

Com a volta da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas regulares, a partir da Nova Lei 11.769, de 18/08/2008, a flauta doce engendra um caminho de possibilidades para o educador musical dentro desses espaços! Instrumento, principalmente, de resultado sonoro-musical e técnico a curto prazo, seu aprendizado possibilita, sobretudo, lidar prematuramente com a música de maneira musical, tarefa que sempre é adiada no ensino instrumental. 

Uma dica para o professor...
No trabalho grupal, a diversidade de saberes e níveis musicais entre os alunos não deve ser um motivo para descabelar e acreditar que seu trabalho está falido antes mesmo de iniciá-lo. Pelo contrário! Isso abre portas para um trabalho multifocal absolutamente rico com os alunos:

1) Atribui, a cada um, funções acessíveis dentro das peças a serem tocadas, ao escolher ou criar arranjos que ofereçam oportunidades para os diversos níveis musicais dos alunos.

2) Motiva os alunos a aprenderem, pois alunos menos experientes e mais experientes compartilham o mesmo espaço de produção musical. A prática colaborativa é essencial recurso motivador em tarefas grupais.

3) Possibilita ampliar o universo de possibilidades musicais com uma mesma peça, pois os arranjos tornam-se naturalmente flexíveis: partes podem ser acrescentadas, suprimidas ou modificadas.

4) Ao iniciar pelo que o aluno domina naquele momento do seu aprendizado, mostramos que o papel de cada um dentro do grupo é especial, que cada um possui seu valor e é imprescindível para o resultado coletivo.

5) Fomenta o espírito compositor que reside em cada professor, pois ele se esforçará para rearranjar ou compor peças específicas para o seu grupo instrumental. Além disso, incita nos alunos o desejo por comporem também, prática que provoca imersão direta com a linguagem e a estrutura musical, e oferece múltiplos olhares sobre a exploração de um mesmo material musical.

Enfim, os benefícios não se esgotam! Se você é professor de instrumento, mesmo que não seja complementar, deve pensar como um educador, não como um performer, ao dedicar-se a ensinar seu instrumento. 

Fica a dica!




Educação Musical: Materiais concretos e prática docente


Está previsto para novembro de 2012 o lançamento do meu livro "Educação Musical: materiais concretos e prática docente", pela Editora Appris, de Curitiba.

O livro, fruto de minha dissertação de Mestrado, defendida em 2009, só conseguiu aceite de editora em maio/junho de 2012. Durante a defesa, na escola de Música da UFMG, a banca recomendou que eu publicasse o trabalho em formato livro, pois o tema era importante pelas discussões que trazia, em tom reflexivo. Em 2009, mesmo, tentei contato com 3 editoras, e os nãos que obtive foram ditos em forma de não resposta aos meus e-mails. Em 2010, por motivos particulares, nem quis me envolver com a pesquisa, por isso deixei a ideia de publicar o livro de lado.

Curioso esse Universo, não? Quando ja havia me esquecido totalmente de tentar publicar o material da dissertação, recebi, diretamente no meu e-mail, um convite da Editora Appris que, iniciando uma coleção voltada à Educação Musical e Musicologia, buscava pessoas que haviam defendido trabalhos de Mestrado ou Doutorado que tivessem interesse em publicá-los. Per-fei-to! E agora o livro, enfim, sairá!

Agradeço imensamente à minha amiga e, na época, orientadora no Mestrado, Prof. Dra. Cecília Cavalieri França que, com grande alegria aceitou escrever o prefácio deste livro - diga-se de passagem, um texto delicado e profundo sobre música, jogo e educação musical!

Pudera minha mãe estar viva para ver nascer o filho que ela ajudou a fazer! Enfim, coisas da vida... Estou MEGA feliz e realizada, e animada a dar continuidade, em forma de publicação, a outras ideias que tenho em mente.

O livro ja está no forno, como se diz, e eu vou anunciar aqui e no facebook o lançamento dele em Belo Horizonte.


Obrigada a todos que apoiam meu trabalho e alegram-se com a chegada desse material publicado!

Abraços,


Dani