sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Lançamento do livro...

É... o livro não ficou pronto para novembro... Enviei as últimas correções há duas semanas, então acredito que ele ja deva estar chegando por aqui!

Estarei com duas centenas de exemplares para venda direta, mas você também poderá adquiri-lo pela Editora.


Todos os direitos reservados à Editora Appris

Haverá um lançamento, organizado pela Editora Appris em Belo Horizonte, mas no rumo em que as coisas estão, acredito que isso ocorrerá somente em 2013. 

domingo, 18 de novembro de 2012

A Composição pode ensinar, você sabia?

A Composição é uma ferramenta poderosa na Educação Musical! Por meio dela, os saberes são articulados, recobrados, reinventados, gerando novas formas simbólicas e, portanto, novas formas de conhecimento musical. 
Como professora de piano, procuro inserir a composição em minhas aulas. Os alunos gostam muito, pelo sentido de identidade e apropriação que ela proporciona: compor é estar no controle dos materiais sonoros, e da forma como eles se organizam e estruturam a obra criada. Manipular materiais sonoro/musicais com a intenção de produzir música é um jogo delicioso, e torna o aluno um "produtor de música", desde cedo, se assim a composição for estimulada e tornar-se uma prática corriqueira nas aulas.

Posso dizer que há algumas maneiras de trabalhar com a composição na aula de piano:
1) O aluno pode compor livremente (usando e descobrindo material sonoro/musical à vontade), a partir de sua experiência prévia, exclusivamente.
2) O aluno pode compor livremente (usando e descobrindo material sonoro/musical à vontade); porém, a partir de uma determinada situação técnica.
3) O aluno pode compor a partir de material sonoro/musical determinado, que apareceu em uma peça que ele está estudando ou ja estudou. 
4) O aluno pode compor a partir de material sonoro/musical e situação (ões) técnica (s) determinado (s), que apareceram em uma peça que ele está estudando ou ja estudou. 
5) O aluno pode inventar uma outra parte para a peça que está estudando via partitura (uma nova seção, uma introdução, ou uma coda, por exemplo).
6) O aluno pode introduzir uma seção improvisativa na peça que está estudando via partitura, ou que ele mesmo compôs. 

Como vemos, as possibilidades são muitas. A título ilustrativo, resolvi descrever um trabalho de composição que realizei com uma aluna adulta. Tomei como ponto de partida o estudo prévio da peça "Caminhando na Lua", do pianista e professor Marçal Castellão (também meu grande amigo e o mais novo partidário da Educação Musical!). 
A peça pode ser ensinada via partitura ou imitação (gestual, auditiva e visual), mas como minha aluna ja lê as notas na extensão da peça, resolvi entregar-lhe a partitura, que posto abaixo.



O texto abaixo, de autoria de Castellão (2012, s/p), identifica a situação musical, os materiais utilizados na composição e o movimento (gesto físico) condutor da peça. 

Situação musical: O controle na descida da tecla somado ao peso do braço (toque preparado) cria uma atmosfera que se remete aos movimentos lentos de um corpo produzidos numa situação de ausência de gravidade. O caminhar proposto no tema é uma alusão à forma de tocar a peça (um dedo de cada mão em movimentos alternados). A peça apresenta uma direção descendente do agudo ao grave do piano. Os acordes por quarta com a nota pedal em desarmonia com o acorde cria uma atmosfera vaga e indefinida que se relaciona com o tema. Dinâmica proposta: piano.

Materiais: arpejos descendentes com nota pedal.

Movimento utilizado: Toque preparado; emprega-se o peso do braço para afundar a tecla bem lentamente e utiliza-se a flexão de pulso para retirar a mão do teclado e preparar o próximo ataque. Para o efeito desejado, a tecla deve ser abaixada bem lentamente. 

Depois de trabalhada a peça com minha aluna, o que levou uns dois ou três meses, até a performance atingir certa qualidade musical, propus que ela compusesse sua peça, a partir dos materiais sonoro/musicais e do movimento utilizado em "Caminhando na Lua". Como a aluna ja lê e escreve música razoavelmente bem, pedi que compusesse algo de que pudesse se lembrar, para que, depois de algumas performances, uma partitura pudesse ser escrita por ela mesma.

O resultado? Uma peça que reflete todo o entendimento da aluna, tanto do ponto de vista musical, técnico e simbólico da peça estímulo, mas com a "sua cara", sua identidade. Decidi postar a partitura original, escrita à mão pela aluna, durante nossa aula, uma vez que a escrita foi um dos objetivos propostos. 

Com vocês, de autoria de Thaís Bíscaro, "A Espera"...!!!



Reparem que a aluna utilizou os mesmos baixos, e na mesma ordem da peça original, bem como as mesmas notas no tecido melódico, apenas modificando sua ordenação. Em outras aulas, ja havíamos improvisado livremente a partir de "Caminhando na Lua", de modo que, em duas ou três tentativas, "A Espera" ficou pronta. 

O que é interessante observar é que, quando compomos, somos mais livres em relação ao movimento/gesto físico e à expressão. Quando criou, Thaís utilizou movimentos mais relaxados e conscientes do que quando tocava a peça estímulo (embora fossem os mesmos movimentos dela!), e mostrou cuidado maior com a sonoridade e os finais de frase. Houve uma comunhão entre o gesto físico e a sonoridade (a tão sonhada comunhão!), que é a expressividade.

Mais interessante, ainda, é perceber que, depois de composta "A Espera", "Caminhando na Lua" amadureceu, ganhou mais vida, mais musicalidade e mais consciência do movimento! Uma criação possibilitou a compreensão dos mecanismos, da expressão, da musicalidade contida na peça estímulo, e retornou tudo isso a essa peça estímulo! 

Mas, como isso foi possível?  Pelo fato também de a performance não estar vinculada à leitura, mas ir sendo gerada  (a aluna  se dedicou alguns bons minutos experimentando ideiais musicais), posso dizer que, quando compôs, Thaís pôde se concentrar mais na música que gerava, o que colocou os movimentos a serviço dela. Isso me mostrou, também, que ela ja havia entendido o movimento de "Caminhando na Lua", mas que precisava estar no controle musical para que esse movimento adquirisse naturalidade. 

Concluindo, as duas peças foram retroalimentadas uma pela outra, somando contribuição e gerando compreensão musical (que entendo, aqui, como a comunhão entre movimento/gesto físico e sonoridade/material sonoro, gerando e sendo revelada pela expressão musical consciente).

Valeu "A Espera"!!!!



domingo, 21 de outubro de 2012

A função do instrumento complementar na formação do licenciado em música

O aprendizado paralelo de um instrumento musical, além daquele no qual você se especializou, pode abrir portas! Portas no âmbito musical, pedagógico e profissional.  No âmbito musical, permite compreender como a música se configura em moldes diferentes daqueles com os quais você está acostumado no seu instrumento usual. Do ponto de vista pedagógico, possibilita compreender a utilidade de se aprender a tocar mais de um instrumento, ainda que de modo não profissionalizante, muito menos virtuose; amplia sua visão de como se ensinar instrumentos musicais distintos, compreendendo os limites técnico-musicais de cada um e lidando, na prática, com a transposição didática disso. E, por fim, no âmbito profissional, amplia suas habilidades como professor, tanto do ponto de vista do mercado quanto do conhecimento e exploração da linguagem musical.

 Porém, normalmente, em relação àquele instrumento no qual não somos especialistas, tendemos a não dedicarmos o devido cuidado às questões técnicas, pedagógicas e musicais. Acreditamos que saber tocar é sinônimo de saber ensinar um instrumento musical: quanto mais virtuose, melhor professor eu serei! (ledo engano...) Então, se dedicamos a ensinar um instrumento musical, esses “nós” acabam se transferindo para o modo como ensino. 

Nos cursos de Licenciatura em Música, é bastante comum a presença de disciplinas "Instrumento Complementar" na grade curricular. Os licenciandos tomam contato com a flauta doce, violão e/ou teclado. Na minha visão, a presença destes instrumentos nas licenciaturas precisa ser consoante com a função a que se dirige esses cursos: formar professores de música.  O aprendizado de um instrumento musical costuma apresentar foco excessivo na performance, privando os alunos de uma experiência ampla e diversificada com o instrumento.  O ensino acaba focando-se na reprodução de repertório via partitura. Assim sendo, os instrumentos complementares são uma oportunidade valiosa para os licenciandos conhecerem um outra visão do ensino/aprendizagem do instrumento, que volta-se para o estudo das possibilidades didático-pedagógicas em sala de aula. Portanto, essas disciplinas, muito mais do que ensinar a tocar esses instrumentos, devem ensinar a ensinar a tocar esses instrumentos! O repertório deixa de ser um fim em si mesmo para assumir o papel de veículo de construção de propostas pedagógicas, exercício de mecanismos didáticos e exploração de possibilidades musicais. Partindo de repertório simples, oportunizam-se o desenvolvimento da criatividade do licenciando, pelo estímulo à recriação das peças e arranjos, o rápido resultado técnico-musical e o prazer de se fazer música desde a primeira aula.

No curso de Licenciatura em Música a Distância da Unincor, onde leciono, a flauta doce é oferecida como instrumento complementar e, como docente dessa disciplina, essas são minhas diretrizes. 

Com a volta da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas regulares, a partir da Nova Lei 11.769, de 18/08/2008, a flauta doce engendra um caminho de possibilidades para o educador musical dentro desses espaços! Instrumento, principalmente, de resultado sonoro-musical e técnico a curto prazo, seu aprendizado possibilita, sobretudo, lidar prematuramente com a música de maneira musical, tarefa que sempre é adiada no ensino instrumental. 

Uma dica para o professor...
No trabalho grupal, a diversidade de saberes e níveis musicais entre os alunos não deve ser um motivo para descabelar e acreditar que seu trabalho está falido antes mesmo de iniciá-lo. Pelo contrário! Isso abre portas para um trabalho multifocal absolutamente rico com os alunos:

1) Atribui, a cada um, funções acessíveis dentro das peças a serem tocadas, ao escolher ou criar arranjos que ofereçam oportunidades para os diversos níveis musicais dos alunos.

2) Motiva os alunos a aprenderem, pois alunos menos experientes e mais experientes compartilham o mesmo espaço de produção musical. A prática colaborativa é essencial recurso motivador em tarefas grupais.

3) Possibilita ampliar o universo de possibilidades musicais com uma mesma peça, pois os arranjos tornam-se naturalmente flexíveis: partes podem ser acrescentadas, suprimidas ou modificadas.

4) Ao iniciar pelo que o aluno domina naquele momento do seu aprendizado, mostramos que o papel de cada um dentro do grupo é especial, que cada um possui seu valor e é imprescindível para o resultado coletivo.

5) Fomenta o espírito compositor que reside em cada professor, pois ele se esforçará para rearranjar ou compor peças específicas para o seu grupo instrumental. Além disso, incita nos alunos o desejo por comporem também, prática que provoca imersão direta com a linguagem e a estrutura musical, e oferece múltiplos olhares sobre a exploração de um mesmo material musical.

Enfim, os benefícios não se esgotam! Se você é professor de instrumento, mesmo que não seja complementar, deve pensar como um educador, não como um performer, ao dedicar-se a ensinar seu instrumento. 

Fica a dica!




Educação Musical: Materiais concretos e prática docente


Está previsto para novembro de 2012 o lançamento do meu livro "Educação Musical: materiais concretos e prática docente", pela Editora Appris, de Curitiba.

O livro, fruto de minha dissertação de Mestrado, defendida em 2009, só conseguiu aceite de editora em maio/junho de 2012. Durante a defesa, na escola de Música da UFMG, a banca recomendou que eu publicasse o trabalho em formato livro, pois o tema era importante pelas discussões que trazia, em tom reflexivo. Em 2009, mesmo, tentei contato com 3 editoras, e os nãos que obtive foram ditos em forma de não resposta aos meus e-mails. Em 2010, por motivos particulares, nem quis me envolver com a pesquisa, por isso deixei a ideia de publicar o livro de lado.

Curioso esse Universo, não? Quando ja havia me esquecido totalmente de tentar publicar o material da dissertação, recebi, diretamente no meu e-mail, um convite da Editora Appris que, iniciando uma coleção voltada à Educação Musical e Musicologia, buscava pessoas que haviam defendido trabalhos de Mestrado ou Doutorado que tivessem interesse em publicá-los. Per-fei-to! E agora o livro, enfim, sairá!

Agradeço imensamente à minha amiga e, na época, orientadora no Mestrado, Prof. Dra. Cecília Cavalieri França que, com grande alegria aceitou escrever o prefácio deste livro - diga-se de passagem, um texto delicado e profundo sobre música, jogo e educação musical!

Pudera minha mãe estar viva para ver nascer o filho que ela ajudou a fazer! Enfim, coisas da vida... Estou MEGA feliz e realizada, e animada a dar continuidade, em forma de publicação, a outras ideias que tenho em mente.

O livro ja está no forno, como se diz, e eu vou anunciar aqui e no facebook o lançamento dele em Belo Horizonte.


Obrigada a todos que apoiam meu trabalho e alegram-se com a chegada desse material publicado!

Abraços,


Dani